As novas tecnologias têm se mostrado uma solução efetiva no enfrentamento dos desafios sociais e a sua utilização com esse intuito vem crescendo em todo os países do mundo. Segundo o estudo realizado no âmbito do projeto DSI4EU, em 2017, existiam quase 2.000 organizações e mais de 1.000 projetos de inovação social digital (DSI, na sigla em inglês) em toda a Europa – com maior concentração de atividade no oeste e sul do continente.
Contudo, apesar do grande volume de ações desse tipo, poucas iniciativas conseguem produzir impacto em escala – o que é, muito provavelmente, um dos maiores desafios da inovação social. Mas, então, como incentivar a inovação social digital no setor público?
Este artigo reúne parte das ideias debatidas no relatório do DSI4EU para tentar desenhar respostas possíveis para essa pergunta. Apesar de focar na Europa, além de mapear projetos e organizações que usam a tecnologia para enfrentar os desafios sociais no Velho Continente e transpor as barreiras ao crescimento do setor, o levantamento traz insights interessantes para o crescimento da inovação social digital como um todo. Acompanhe!
Em primeiro lugar, o estudo identificou que um dos maiores desafios da inovação social digital é a comunicação. Projetos e organizações envolvidas nesse cenário estavam relativamente mal conectados uns aos outros. Logo, notou-se que existe uma necessidade urgente de desenvolver redes locais fortes e entre países e regiões a fim de impulsionar a colaboração e o compartilhamento de conhecimento.
Essa constatação pode parecer até contraditória, uma vez que vivemos na era da globalização, na qual estamos todos “hiperconectados”, e que a própria internet nasceu com o objetivo de disseminar conteúdo e criar redes. Basta pensar que a ideia de Tim Berners-Lee em ter um projeto de hipertexto para facilitar a partilha e atualização de informações entre os pesquisadores foi a essência para o surgimento da World Wide Web.
Confira o vídeo da participação de Renato Russo, líder de projeto do Instituto Tellus, na conferência SP2020 em painel sobre cidade e inovação:
O estudo mapeou também um outro desafio que impacta diretamente o crescimento da inovação social digital: a falta de financiamento e investimento e a escassez de competências digitais estruturais. Isso acontece em todo o continente, mas, é um problema maior fora da Europa Ocidental.
Além disso, percebeu-se também que as organizações da sociedade civil e o setor público ainda demoram a adotar a DSI, apesar da oportunidade de oferecer melhores serviços a um custo menor e embora existam exemplos emergentes de boas práticas em toda a Europa.
Ainda, envolver cidadãos e usuários, entender e medir o impacto das ações e planejar o crescimento com sustentabilidade são outras dificuldades que os atores analisados no levantamento têm encontrado.
Como mencionamos, o estudo do DSI4EU levantou também algumas recomendações para que financiadores e gestores de políticas públicas possam incentivar a inovação social digital em seus países.
Abstraindo algumas peculiaridades do contexto europeu, essas dicas são aplicáveis ao cenário brasileiro e podem, com algumas adaptações, ser replicadas por aqui. Sendo assim, listamos aqui seis recomendações políticas para promover a DSI. Confira!
Os financiadores privados e públicos da inovação social digital devem garantir que as organizações e projetos sejam capazes e incentivados a acessar o financiamento. No Brasil, vimos alguns exemplos práticos bem interessantes nesse sentido.
Atualmente, alguns investimentos em grande escala são destinados a projetos individuais, enquanto a maioria dos projetos perdem oportunidades. No entanto, concentrar-se no investimento em infraestrutura – como incubadoras, aceleradoras, construção de redes, centros físicos e iniciativas de treinamento – permitiria um sistema mais descentralizado capaz de suportar uma gama mais ampla de iniciativas.
Saiba mais sobre o projeto Inova Juntos
O apoio financeiro privado e público à inovação social digital não deve se concentrar apenas em startups e organizações de base, mas também em melhorar a maturidade digital de organizações estabelecidas da sociedade civil e em apoiar iniciativas dentro delas.
Permitir a aprendizagem entre pares e a divulgação das melhores práticas é fundamental para o setor. Isso deve acontecer não apenas entre os profissionais, mas também entre financiadores, formuladores de políticas públicas e investidores.
O projeto piloto Fortalecendo Capacidades Institucionais em Municípios para Soluções Inovadoras, do Instituto Arapyaú, foi sistematizado pelo Instituto Tellus com o objetivo de registrar os principais aprendizados adquiridos – e é um exemplo de como as experiências podem ser compartilhadas. Veja um resumo:
Outro fator importante para a promoção da inovação social digital é a realização de pesquisas adicionais sobre as condições e modelos de apoio. Na Europa, por exemplo, a Comissão Europeia deveria apoiar mais a investigação sobre as condições de habilitação da DSO e os modelos de crescimento e sustentabilidade para iniciativas nesse cenário.
Por fim, a última recomendação trata da utilização de contratos públicos para promover a inovação social digital. O setor público deve apoiar mais a DSI, promovendo o código aberto sempre que possível, testando as iniciativas em protótipos e adotando métodos inovadores de aquisição. O Instituto Tellus também já realizou um projeto nesse âmbito, o INOVAMOS, no qual foi criado um modelo de apoio à compra de inovação que pode ser replicado em diversas esferas das administração pública. Para saber todos os detalhes e acessar o modelo, confira esse outro artigo.
Todas essas dicas são muito importantes para que o setor público brasileiro possa inovar cada vez e construir soluções mais efetivas para atender às necessidades dos cidadãos e promover a mudança social que precisamos.
Quer saber mais sobre inovação e políticas públicas? Confira o Tellus Podcast #12 com Fabiana Ruas, Diretora do Centro de Pesquisa e Inovação do Tribunal de Contas da União (TCU):
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