Não por acaso, o envelhecimento é um tema muito atual, pois se trata de uma questão urgente: a população idosa está em expansão. No Estado de São Paulo, até 2050, estima-se que o número de cidadãos com mais de 65 anos chegará a 10,7 milhões, que corresponderão a 30% da população total, segundo a Fundação SEADE. Diante da necessidade de olhar com mais atenção para esse grupo, foi desenvolvido o projeto Rede Bem Estar.
O novo perfil populacional exige ações integradas para garantir o envelhecimento ativo, empoderar e fortalecer a importância do idoso na sociedade. Assim, a iniciativa propõe a implementação de uma plataforma com conteúdos relevantes sobre envelhecer, visando contribuir para fortalecer os vínculos entre idosos, seus familiares, amigos e cuidadores.
A partir dessa premissa, o projeto Rede Bem Estar foi realizado pelo Instituto Tellus, com apoio do Conselho Estadual do Idoso de São Paulo (CEI-SP) e da Secretaria de Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo. Além disso, também contou com a parceria operacional da Liga Solidária e da BrasilPrev, como parceira incentivadora.
O vínculo afetivo é essencial para a construção das relações entre os seres humanos. No caso dos idosos, o fortalecimento desse elo é muito importante para o enfrentamento da velhice.
Partindo desse entendimento, o desafio inicial do projeto Rede Bem Estar foi definido por meio da seguinte questão: como podemos desenvolver ações para ampliar e aprimorar a relação entre as pessoas idosas e seus acompanhantes (familiares, amigos e cuidadores) no intuito de contribuir para um cuidado mais adequado dessa população?
Visto que o uso da tecnologia está cada vez mais presente no cotidiano das famílias e também entre a população com mais idade, o projeto propôs o desenvolvimento de uma plataforma com conteúdos, vídeos, informações e dados para ampliar a conscientização sobre os cuidados com o idoso e as políticas públicas voltadas a esse grupo.
Além da plataforma e aplicativo de conteúdos, o projeto Rede Bem Estar contou também com a implantação de uma atividade piloto no Complexo Educacional Educandário Dom Duarte (EDD), no distrito Raposo Tavares (um dos locais de desenvolvimento das atividades do parceiro operacional do projeto).
O piloto envolveu um núcleo de convivência de idosos da Liga Solidária, formou 15 idosos no Programa Educativo via WhatsApp e 150 gestores públicos na Capacitação para Replicabilidade. Além disso, durante o período de execução, beneficiou mais de 92 mil pessoas por meio do acesso à plataforma digital https://redebemestar.com.br/.
Com base na metodologia autoral do Tellus, o pontapé inicial do projeto englobou o diagnóstico e a exploração, etapas voltadas ao aprofundamento do contexto no qual a iniciativa está inserida.
Portanto, a parte inicial do trabalho consistiu em um grande mergulho no tema do envelhecimento e nas necessidades dessa população. Para tanto, foi feita uma vasta análise de pesquisas sobre o assunto e foram realizadas diversas entrevistas e visitas de campo:
A partir desse estudo aprofundado, a equipe Tellus produziu um relatório detalhado que abordou alguns aspectos: social, renda, aposentadoria, saúde e fragilidade.
De acordo com o diagnóstico, a solidão é uma das maiores questões da população idosa e o isolamento aumenta significativamente os problemas de saúde, impedindo a estabilidade financeira.
Por outro lado, 76,7% dos idosos usam o celular para se conectar com o mundo. Entre esse grupo, os aplicativos mais comuns são as redes sociais (70,2%), o Táxi/Uber (43,5%) e os apps para consultas/transações bancárias (28%). As informações são da pesquisa Estilo de vida e Consumo da Terceira Idade 2018, realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo SPC Brasil.
Nessa fase do projeto, constatou-se também que a desigualdade do país se manifesta de modo claro quando analisamos a idade média ao morrer e que a população idosa AB representa pouco o idoso brasileiro.
Nas classes CDE, a realidade dessas pessoas é marcada pelo analfabetismo, dificuldade de exercer atividade remunerada e alto índice de doenças crônicas.
Além disso, descobriu-se, ainda, que 70% das pessoas idosas do país estão aposentadas e que, ainda assim, 53% são responsáveis por mais da metade da renda familiar, conforme dados apresentados por pesquisadora da Fiocruz.
A situação também é bastante delicada no que se refere às questões de saúde. Conforme estudo realizado pelo Ministério da Saúde em 2018, 70% dos idosos possuem alguma doença crônica, como diabetes, hipertensão ou artrite. Desses, 40% apresenta pelo menos uma e 29,8%, duas ou mais enfermidades. Outro dado importante constatado nesse mesmo levantamento foi que mais de 75% dos idosos são usuários do SUS.
A fragilidade mede a vulnerabilidade dessa população — o que inclui aspectos biológicos, clínicos, psicológicos e sociais. Infelizmente, a violência é uma realidade para muitos idosos e mais de 60% dos casos ocorrem dentro de casa, segundo dados da Fiocruz.
Quanto ao perfil dos cuidadores familiares, no município de São Paulo, de acordo com a Pesquisa SABE, 37,9% também são pessoas com mais de 60 anos. A maioria é mulher — filha ou cônjuge do idoso que necessita cuidados.
Essa parte inicial do desenvolvimento do Rede Bem Estar trouxe uma série de aprendizados fundamentais para o prosseguimento do projeto:
Após a imersão inicial, o entendimento do contexto e das necessidades reais dos usuários, a redefinição do desafio é um momento crucial para dar direcionamento e foco aos passos seguintes do projeto.
Levando em conta tudo que foi aprendido nessa etapa inicial, o objetivo do Rede Bem Estar passou a ser: como podemos ampliar e aprimorar o vínculo e o cuidado nas redes de apoio de idosos por meio de uma plataforma de experiências digitais e presenciais?
Na metodologia Tellus, a etapa da cocriação tem a finalidade de reunir o maior número possível de atores envolvidos no cenário do projeto para a busca conjunta por possibilidades de solução para os desafios mapeados.
“Pessoas idosas sofrem do que chamamos idadismo, que é o preconceito contra elas. Tendem a sentir-se mais isoladas de processos decisórios e ter seu olhar pouco representado no desenho e implementação de políticas. Por isso, incluí-las na coconstrução de soluções que possam beneficiá-las é algo necessário”, explica Esther Leblanc, uma das consultoras do projeto.
No Rede Bem Estar, essa fase dividiu-se em cinco encontros e envolveu ao todo 52 pessoas de diferentes idades, gêneros e repertórios de interesse, sendo:
As soluções identificadas na etapa da cocriação do projeto Rede Bem Estar foram, de fato, tiradas do papel durante o processo de implementação — depois, é claro, de serem validadas, aprimoradas e testadas. As realizações do projeto se deram em seis frentes, que detalharemos a seguir.
A iniciativa precisava de uma “cara”, que foi personificada por Madu, nome inspirado em palavras-chave identificadas nas pesquisas com idosos e especialistas — como “amadurecer”. A criação da personagem tem o intuito de humanizar a relação e criar proximidade com o público-alvo.
Essa parte incluiu o desenvolvimento do site e do aplicativo com notícias variadas sobre temas relevantes ao envelhecimento para os idosos e as pessoas que convivem com eles. Em relação ao site, alguns pontos foram considerados prioritários, como baixa complexidade de uso, facilidade de leitura, diferentes formatos de conteúdos e definição de temas.
No que diz respeito a este último, ficou definido que seriam produzidos materiais dentro de algumas categorias:
Os principais objetivos do site são sensibilizar sobre o tema do envelhecimento, oferecer acessibilidade, produzir notícias fáceis de encontrar e mostrar atualizações e notícias mais lidas. No período de nove semanas desde o início da campanha de comunicação, o site teve quase 127 mil acessos e mais de 92 mil usuários.
No que diz respeito ao aplicativo, a prioridade também foi apostar em uma estrutura que facilitasse a navegação e a leitura do idoso. Além disso, pensou-se também na criação de um ícone para que o usuário saiba que terá notícias e de um sistema de notificações no feed a cada três dias com base nos principais interesses demonstrados.
Utilizando diferentes canais — site, e-mail e redes sociais —, a comunicação do Rede Bem Estar teve como missão:
A comunicação do projeto utilizou diferentes temas e formas de engajamento, obtendo grande alcance e ótimos resultados (como veremos a seguir).
O programa educativo consistiu no desenvolvimento de uma metodologia que incluiu uma série de atividades a serem realizadas por equipamentos que trabalham com idosos. Nesse sentido, foram desenvolvidos três módulos de trabalho: memória e sonho, fortalecendo vínculos interpessoais e protagonismo no território.
O conteúdo foi dividido em 12 encontros com o total de 30 horas de experiência e a estruturação do programa com quatro dimensões: conhecimento, habilidades, caráter e meta-aprendizado.
Esse ponto refere-se à aprendizagem do programa educativo por gestores e facilitadores de grupos de idosos. Para isso, foi desenvolvido um “kit do gestor e da gestora”, com versão impressa e digital e uma formação online para 150 pessoas.
“Desenvolver um portal onde especialistas tratam de assuntos complexos, de forma empática e trazendo soluções, abre um mundo de oportunidades para a população idosa com novas ideias e formatos para diversas questões da vida. Nas formações realizadas, sentimos, mesmo que online, a potência do Programa Educativo como recurso e ferramenta de apoio aos gestores públicos que trabalham com idosos”, contou Sabrina Cardoso, consultora do projeto.
Por fim, a última frente de implementação do piloto do projeto Rede Bem Estar em uma organização de atendimento à pessoa idosa tratou da cocriação de um espaço de convivência em um equipamento público para idosos — nesse caso, um ambiente da Liga Solidária, parceira operacional da iniciativa.
Devido à necessidade de alteração na estrutura física, o espaço foi criado para implementação futura. Paralelamente, alguns itens foram adquiridos — e com a aprovação do CEI-SEDS, cedidos à Liga Solidária e serão, posteriormente, doados à instituição — para que o programa educativo pudesse ser executado. Entre eles, estão câmera digital, cadeira, notebook, smart TV, sofá e outros.
Além de todos esses importantes resultados, o Rede Bem Estar deixa também uma importante herança relacionada à mudança de mentalidade, como destaca Thayná Bastos, líder consultora da iniciativa: “O projeto deixa de legado para a sociedade a quebra de paradigmas em falar sobre envelhecimento, seja no contexto familiar ou de políticas públicas. No sentido de ampliar as discussões sobre o envelhecer, vimos muitas pessoas tocadas sobre o tema que nunca haviam parado para refletir ou que estavam sofrendo por não saber como lidar com o tema do envelhecimento”.
Site
App
https://www.facebook.com/madu.redebemestar
https://www.instagram.com/madu.redebemestar/
YouTube
https://www.youtube.com/channel/UCT5BG2UcuU2pEOxXtlvnmeg/featured
Programa de Inovação do TCU: Instituto Tellus realiza curso de design de serviços públicos para instrumentalizar servidores do órgão
Iniciativa de Ensino Híbrido: projeto da Secretaria de Educação de SP realizado pelo Instituto Tellus impacta 500 mil jovens
Projeto de qualificação do atendimento nas policlínicas de Santos tem desenvolvimento do Instituto Tellus