O mundo, muito provavelmente, nunca precisou tanto de inovação social. A pandemia de Covid-19 nos obrigou a olhar com uma lente de aumento para os problemas complexos já existentes e para os novos que estão surgindo. Nesse contexto, o Brasil necessita mais do que nunca acelerar o processo de inovação para escalar soluções com foco nos grandes desafios que já estamos enfrentando — e que estão por vir como efeito da crise que seguirá nos próximos anos.
No entanto, inovar com rapidez requer alguns cuidados, pois há fases fundamentais no desenvolvimento de projetos desse tipo que precisam ser respeitadas – especialmente quando falamos em inovação no setor público. Só assim assegura-se que os resultados sejam aqueles esperados e que realmente façam diferença para a sociedade
Isso quer dizer que é preciso agir rapidamente, mas sem pular as etapas essenciais do processo de inovação, que são as responsáveis por garantir que as soluções tragam o impacto necessário para a população.
A inovação social não é algo recente, mas ganhou bastante destaque nos últimos anos, em função da transformação digital e dos avanços tecnológicos pelos quais o mundo tem passado. Essas mudanças exigem que a administração pública se adapte para desburocratizar os seus métodos e atender às novas necessidades da população.
Sendo assim, o processo de inovação no setor público já está em andamento e vem contribuindo para a revisão de procedimentos ultrapassados e a melhoria dos serviços ofertados aos cidadãos.
Contudo, em um cenário de pandemia, a necessidade de inovar, além de aumentar significativamente, se torna urgente. Vivemos diante de problemas extremamente complexos para a contenção do vírus e, infelizmente, teremos que enfrentar, ainda, os desafios futuros que devem surgir nos próximos anos. Precisamos, portanto, contar com as melhores tecnologias, recursos e talentos para agir neste momento.
Questões relacionadas à desigualdade social e ao aumento da pobreza não podem esperar e, para fazer algo efetivo a respeito, precisamos focar em buscar soluções inovadoras que tragam um impacto perene e não apenas pontual. Nesse sentido, os focos do processo de inovação social no atual contexto precisam ser, a meu ver:
Promover o avanço da telemedicina e das soluções baseadas na Inteligência Artificial na área médica.
Pensar em recursos e metodologias para ensino híbrido — presencial e à distância.
Investir em urbanismo social com ênfase nas favelas e periferias para melhoria das condições de vida dos habitantes.
Criar programas de apoio à empregabilidade e suporte ao empreendedorismo por necessidade.
A situação que vivemos exige, portanto, medidas urgentes a fim de controlar a crise atual e minimizar as consequências da pandemia no futuro. Ou seja, é preciso agir — e rápido.
Entretanto, se quisermos garantir os efeitos positivos das nossas ações, devemos saber que agilizar o processo de inovação não pode, de forma alguma, atropelar o seu desenvolvimento. Ao criar soluções sem passar por todas as etapas, colocamos a perder os nossos esforços, diante dos riscos de inovar rápido demais.
No Instituto Tellus, por exemplo, desenvolvemos uma metodologia autoral para inovar no setor público baseada no Design Thinking e no Design de Serviços e com quatro fases principais: diagnóstico, exploração, cocriação e implementação.
As etapas iniciais são fundamentais para compreender o problema antes de propor respostas para solucioná-lo. Logo, se ao inovar não houver um tempo adequado para diagnóstico e exploração, dificilmente a questão será entendida com a profundidade necessária. Ou, ainda, esse adiantamento no processo de inovação pode resultar em um entendimento linear do problema e acabar por “atropelar” o usuário em vez de beneficiá-lo.
Outro ponto-chave da metodologia Tellus é a cocriação. A ideia aqui é construir soluções não para o usuário, mas junto com ele, que é, afinal, o principal foco de todo o projeto. Ocorre que cocriar de forma rápida demais pode significar não ter tempo suficiente para envolver todos os atores necessários para essa construção conjunta.
Por fim, muitas vezes quando se tem a abreviação do processo de inovação deixa-se de realizar uma outra parte fundamental: a prototipação. Ela nos permite testar a solução e, assim, amplia em mais de 80% a assertividade do projeto, sendo uma grande aliada na criação de um importante impacto social.
O segredo está, portanto, em encontrar um equilíbrio entre a urgência de inovar para buscar soluções e o percurso que precisa, inevitavelmente, ser realizado para garantir que o projeto terá os resultados esperados.
É fundamental, antes de tudo, superar — também rapidamente — as barreiras impostas à inovação no país, como a burocracia e a falta de continuidade. Sem isso, realmente, é provável que o processo de inovação não seja concluído em tempo hábil.
Sabemos que existem parcerias que dão muito certo e, por isso, merecem ser repetidas. Quando precisamos acelerar um processo de inovação, conhecer bem o parceiro e a sua forma de trabalho é um grande adianto para o desenrolar do projeto. Por isso, o ideal é começar com parceiros com quem já tenha uma relação construída e forte.
O processo de inovação que se dá a partir de abordagens do Design Thinking e do Design de Serviços costuma ser eficaz porque pressupõe o envolvimento de todas as pessoas afetadas pela construção da solução em questão. Logo, uma forma de assegurar mais rapidez no desenvolvimento do projeto é envolver todos esses atores desde o seu início.
Sendo a prototipação uma das garantias de que a solução será eficaz, ela não pode ser atropelada. Em pouco tempo, a saída pode ser reduzi-la, ou seja, testar um mínimo viável para realizar pelo menos os ajustes necessários.
O Instituto Tellus vem realizando, no cenário atual, uma série de projetos com um processo de inovação ágil e eficaz, que demonstram que é possível fazer — bem feito e rapidamente, conforme a urgência necessária, e gerando os resultados que precisamos.
O Cuidando de Todos começou em 2018 com o objetivo de realizar ações para melhoria da prevenção, conscientização, rastreamento, controle, tratamento e adesão das pessoas com Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT).
No entanto, depois do início da pandemia, o projeto da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo com o apoio da Fundação Novartis, se adaptou rapidamente para o novo contexto. A partir da implementação do Instituto Tellus, o Cuidando de Todos hoje tem cerca de 60 Embaixadores do Coração em Itaquera e já realizou mais de 40 ações diferentes.
Entre as ações do Programa Covid Zero, iniciativa voltada à contenção do Covid-19 e à mitigação de seus impactos negativos, contribuímos com a elaboração e implementação do RadVid-19. Nessa missão, tivemos como parceiros a Novartis Foundation, o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC) e a Secretaria de Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo.
Contar com parcerias já conhecidas e próximas foi essencial para a rapidez no desenvolvimento do projeto e para o sucesso da plataforma, que lança mão da Inteligência Artificial para diagnosticar mais rapidamente casos de Covid, usando tomografias e radiografias de pacientes.
Quer saber mais sobre inovação e políticas públicas? Confira o Tellus Podcast #12 com Fabiana Ruas, Diretora do Centro de Pesquisa e Inovação do Tribunal de Contas da União (TCU):
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