Temos tratado bastante sobre inovação no serviço público por meio de textos publicados aqui no site do Instituto Tellus. Já falamos sobre o caso de governo 4.0 da Estônia, sobre o que o investimento social privado (ISP) pode fazer por cidades sustentáveis e como o 5G pode ser um desafio para o setor público.
Mas, afinal, por que a inovação no serviço público se tornou algo tão importante? Nos últimos anos, os governos tiveram — e continuam tendo — que se adaptar às mudanças, que vão do campo tecnológico até as necessidades da população.
Muito mais do que atualizar ferramentas, a inovação no serviço público está ligada a processos. A burocracia tradicional e os procedimentos de décadas atrás precisam ser revistos por um simples motivo: o mundo mudou — e seguirá mudando — muito mais rápido do que em períodos anteriores.
Não que a necessidade de inovação não existisse anteriormente, mas a velocidade com que as coisas acontecem hoje é muito mais rápida. Além disso, nunca foi fácil para os governos inovarem — e estamos falando em inovação em escala.
É claro que a administração pública não precisa acompanhar as transformações externas como a iniciativa privada. No entanto, o papel do Estado, além de manter a estabilidade, é também aquele de proteger os mais vulneráveis — e isso, muitas vezes, demanda, justamente, inovações disruptivas.
No Brasil, os processos tradicionais de seleção para servidores públicos costumam se pautar em competências técnicas, as conhecidas “hard skills”. São habilidades que podem ser apreendidas — principalmente por meio de uma graduação ou certificado — e facilmente quantificadas.
Mas isso é passado. Para inovar, precisamos também observar as “soft skills”, habilidades comportamentais muito mais difíceis de serem avaliadas, pois ligadas ao relacionamento e à interação interpessoal. Quem afirma isso é o Observatório de Inovação no Setor Público (OPSI), que, em 2018, fez uma avaliação do sistema de inovação do serviço público brasileiro e a liderança do setor no país.
Como resultado preliminar, o OPSI identificou a necessidade de quatro tópicos essenciais para serem adotados como conjunto de competências de lideranças no setor:
Para saber mais sobre inovação e políticas públicas, confira a conversa de Germano Guimarães, co-fundador e diretor do Instituto Tellus, com Humberto Dantas e Roberto Agune em debate sobre os desafios da gestão pública municipal no Brasil:
No estudo, o OPSI levanta outras análises sobre a liderança no setor público e usa como exemplo a estrutura de competências adotada pelo governo da Estônia. Separado em seis tópicos, o modelo estoniano de inovação no serviço público data de 2017 e é adotado como base para o quadro de competências do Serviço Público Superior Estoniano (TCS).
Um mundo em mudança sugere que os governos também precisam mudar. Além disso, como também mencionamos, essas transformações envolvem inovação.
Logo, se os governos quiserem responder ou se preparar de forma significativa para esse “novo mundo”, necessitam investir em inovação no serviço público. Um exemplo da necessidade dessa mudança é a forma como a Geração Z (pessoas nascidas entre 1995 e 2009) encaram o conceito de “nacionalidade”.
“Estamos caminhando para uma revolução baseada em plataformas (…). Todo mundo falava sobre a era digital, mas essa transformação não é do analógico para o digital. Estamos mudando de um mundo linear, onde tudo era linear. Linhas de produção, industriais e políticas; para um local que não necessariamente segue esse formato”, afirma Thomas Le Thierry, presidente global da Vizeum.
Essa ideia foi defendida, segundo Gustavo Giglio, em um dos painéis apresentados durante o Cannes Lions International Festival of Creativity 2019, quando Le Thierry foi questionado sobre como as marcas devem reagir ao novo cenário, no qual os consumidores da Geração Z tendem a se conectar por interesses, deixando de lado as suas nacionalidades.
A discussão, apesar de ocorrer no setor privado, é uma tendência que o setor público precisa ficar atento. De acordo com o diretor criativo global do Spotify, Alex Bodman: “a Geração Z não está realmente se associando a uma nacionalidade específica. Eles são uma geração mais diversificada e interessada em encontrar suas tribos, o que faz sentido porque eles têm uma cultura conectada online, com acesso a plataformas como a nossa, que oferecem diversos pontos de vista e formas de conexão”.
Na prática, isso significa que as pessoas dessa faixa etária possuem acesso a pessoas, culturas e conteúdos de diversas nacionalidades. Le Thierry concorda: “as cidades devem refletir a cultura e criar um ambiente onde os clientes possam criar conexões significativas com os jovens consumidores. Eles procuram novas comunidades e pontos de vista e, nesse aspecto, os dados se tornam a origem de nossos negócios. Você precisa pensar no que é relevante para esse indivíduo — e isso pode não ser importante para a cultura da cidade grande”.
Podemos pensar que o mesmo acontece com o setor público: precisamos entender o que é relevante para o indivíduo e, para isso, temos que ter a inovação no serviço público como um dos princípios de uma boa gestão da administração pública.
Para se aprofundar ainda mais no tema, confira o Tellus Podcast #12 com Fabiana Ruas, Diretora do Centro de Pesquisa e Inovação do Tribunal de Contas da União (TCU):
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