Espera-se que o funcionário público do século XXI seja uma pessoa adepta a mudanças. Sobretudo diante das constantes transformações digitais e disruptivas no meio econômico e social que vivenciamos hoje. Assim, a adequação de ferramentas de inovação no dia a dia de gestores públicos pode preparar pessoas e instituições para inovar no governo e buscar novas oportunidades de crescimento sustentável.
Essas mudanças exigem uma reinvenção da gestão pública e essa busca por um novo papel exige muita inovação no setor público, que deve atuar como facilitador de novas soluções para lugares, economias e questões sociais.
Existem muitas maneiras de dar vida a boas ideias. Toda inovação evolui através de estágios, geralmente com vários ciclos de feedback e interação. A experiência mostra que muitos atores que procuram inovar no governo utilizam apenas algumas ferramentas, em vez de escolher as melhores e mais adequadas para desenvolver o trabalho.
Diante desse cenário, preparamos dois artigos sobre o tema e, neste primeiro, vamos trazer dez ferramentas que comprovadamente ajudam a inovar (e prosperar) no governo. Trata-se de recursos que têm base em dados sólidos no governo local e central do Reino Unido, bem como em mais de 30 governos internacionais.
As ferramentas para inovar no governo podem abranger todo o ciclo de vida da inovação: da descoberta de novos insights à geração de novas ideias, às ferramentas de desenvolvimento e teste até aquelas de suporte e mudança do sistema.
Algumas delas exploram novas tecnologias, como inteligência artificial (IA), blockchain e análise de dados. Outras aproveitam insights de novas fontes, incluindo trabalhadores e cidadãos da linha de frente, inteligência coletiva e serviços públicos de pessoas.
Há também ferramentas que usam novos métodos de financiamento, como o coletivo e empréstimos a servidores públicos. Além disso, podemos dizer que algumas delas já estão, inclusive, bem estabelecidas, enquanto outras ainda estão emergindo. Vamos, então, conhecer algumas delas?
Com o número crescente de dados sendo gerados por segundo no mundo digital, o Data Analytics é a análise aprimorada de grandes quantidades de dados brutos para extrair informações para um negócio. Ele antecipa tendências e considera métodos para responder questões por meio da aplicação de um processo algorítmico.
A análise criteriosa e o cruzamento destes dados fazem com que seja possível aperfeiçoar a compreensão dos mais variados cenários e viabiliza a extração de padrões, os quais podem ser usados para fazer a diferença na operação do governo.
O Data Analytics é importante quando se deseja inovar no governo, pois permite antecipar intervenções e prevenções, tomar decisões mais rápidas e efetivas e personalizar os serviços.
Os governos estão focados em encontrar novos lugares para aplicar a inteligência artificial (IA), como recursos algoritmos preditivos em justiça criminal e assistência médica, reconhecimento facial no policiamento e uso de chatbots para serviços.
Mas também há um interesse crescente em novas maneiras de aproveitar a inteligência coletiva – usando informações, ideias e insights dos cidadãos.
A colaboração online ajudou na explosão de novas tecnologias para detectar, analisar e prever. Os resultados disso podem ser vistos em plataformas como a Wikipedia e suas muitas ramificações.
É possível utilizar todo esse potencial para resolver problemas, inovar em produtos e serviços e até mesmo melhorar o clima organizacional. Para isso, existem ferramentas que podem ajudar nessa missão, como o crowdsourcing, por exemplo.
Trata-se de um modelo que utiliza essa inteligência coletiva justamente para criar conteúdo, soluções e desenvolvimento para produtos, processos e serviços, bem como gerar fluxo de informação.
Atualmente, os governos estão usando inteligência coletiva para inovar em três frentes principais: para um melhor entendimento de problemas, na captação de ideias e soluções com uma visão mais ampla de fontes e no aprimoramento da tomada de decisões.
O próximo passo para os governos é usar a inteligência coletiva para resolver situações cotidianas, como mudanças climáticas ou doenças. Todo governo pode trabalhar de maneira mais efetiva se explorar uma “mente maior” – mobilizando mais cérebros, dados e computadores para ajudá-lo. Isso requer um design cuidadoso, curadoria e orquestração.
A tecnologia pode ser usada para inovar no governo e envolver um grupo muito maior de cidadãos na tomada de decisões e na formulação de políticas. Isso inclui aplicativos e outras tecnologias digitais para melhorar a participação pública, permitindo que cidadãos proponham ideias, comentem ou votem sobre temas que, de alguma forma, afetam as suas vidas.
Quando a tecnologia funciona bem, é possível ajudar os governos a reunir ideias e incentivar o debate, combinando deliberações online e offline com os cidadãos.
Graças às tecnologias digitais, é possível ler as notícias, estudar para ter um diploma e conversar com amigos de todo o mundo – tudo sem sair da sua casa. Mas a governança democrática — forma de governar no espaço local, tendo como objetivo a organização e ação da sociedade resultando na promoção do desenvolvimento humano — ainda não aproveitou todas essas novas possibilidades.
Os governos de todo o mundo estão preocupados, com razão, com um crescente senso de divisão e um descrédito nas instituições formais. Alguns reconhecem que uma das razões é que as tecnologias da democracia quase não mudaram nas últimas décadas. Como resultado, há um interesse crescente em novas maneiras de organizar consultas públicas, formulação e discussão de políticas, bem como a supervisão da implementação dessas ações.
É muito importante o apoio aos governos para tentar encontrar novas ferramentas que envolvam os cidadãos na sugestão de questões ou preocupações específicas, no desenvolvimento e análise de propostas legislativas e na tomada de decisões políticas.
É uma maneira de baixo risco — e custo — de desenvolver, testar e melhorar ideias em um estágio inicial. Ele permite inovar no governo, experimentando, avaliando, aprendendo e adaptando uma ideia rapidamente, para que possam aperfeiçoá-la em algo melhor e escalar soluções respondendo a perguntas importantes com usuários reais.
Os protótipos devem ser usados quando você tem uma hipótese sobre uma solução, mas ainda há incertezas sobre como ela se parece, se sente e funciona. Nesse sentido, os insights dos testes são muito valiosos e usados para melhorar essa ideia.
Ao desenvolver e melhorar o protótipo, você pode maximizar o que aprendeu e refinar sua ideia. Isso ajuda a passar de uma versão com poucos detalhes ou funcionalidades — como um rascunho — para outra muito mais completa — dando aos usuários do teste uma melhor noção de como a solução funciona.
>>> Para saber os detalhes sobre o MTPAR Social, acesse o artigo MTPAR Social: projeto mostra como construir parcerias de impacto social entre os setores público e privado
Geralmente, a prototipagem é um processo interativo, no qual cada interação aumenta a compreensão do que funciona, para quem e em que contextos. Assim, os inovadores podem tomar decisões sobre o desenvolvimento ou não de determinada ideia e, em caso afirmativo, compreender como ela deve ser adaptada para melhorar a vida das pessoas para as quais se destina.
Para ter sucesso na utilização dessa ferramenta, é necessário que o inovador tenha um entendimento claro das perguntas que ele precisa responder. Existem diferentes abordagens para a criação de protótipos e a que você decidir usar dependerá do estágio em que se encontra e das perguntas que precisa responder.
A experimentação ajuda os governos a descobrir o que é mais eficaz ao inovar. As experiências geralmente produzem evidências empíricas do que funciona em uma linha de base ou grupo de controle, como parte de um estudo.
As experiências fazem parte do arsenal da ciência e da solução de problemas há séculos. Elas desempenham um papel crucial no teste de novas tecnologias e medicamentos, por exemplo, mas também podem ser aplicadas a questões sociais e à formulação de políticas. Alguns países – principalmente a China – têm tradições muito longas de experimentar no governo.
Existem várias maneiras dos profissionais que atuam na gestão pública “experimentarem”. Você pode trabalhar em estreita colaboração com as pessoas que usarão a solução final para ver como uma inovação funciona na vida real, por exemplo. Ou, ainda, você pode usar métodos de avaliação mais robustos – como ensaios clínicos randomizados (ECR) – para testar uma ideia e descobrir se ela funciona.
Tanto empresas — como Amazon e Google — quanto governos podem e devem realizar experimentos. Na Finlândia, as experiências se tornaram uma política oficial do governo, com uma equipe dedicada no Gabinete do Primeiro Ministro. No Canadá, uma carta do primeiro-ministro emitida em 2015 instou todos os departamentos do governo a dedicarem fundos destinados a experimentar novas abordagens.
O Desafio de 100 dias ajuda as equipes das organizações a testarem novas soluções e formas de trabalhar para resolver um problema específico — como reduzir o tempo de espera em um hospital, por exemplo. A abordagem capacita e conecta os mais próximos à prestação de serviços — profissionais da linha de frente, usuários e comunidades — para promover mudanças.
Esses profissionais da linha de frente e as pessoas que dependem de serviços têm uma experiência incomparável de como o sistema opera. No entanto, contraditoriamente, elas costumam ter pouca influência sobre as decisões.
O Desafio de 100 dias permite que funcionários e cidadãos da linha de frente colaborem e experimentem novas maneiras de trabalhar. Equipes de muitas organizações trabalham juntas para projetar e testar novas soluções, atuando em ciclos de três meses.
Os líderes seniores são envolvidos desde a definição da área de foco inicial até o apoio à expansão de ideias bem-sucedidas. É um processo de inovação estruturado e rápido, que incorpora o suporte ao treinamento e outros métodos que permitem que as pessoas adotem novas maneiras de trabalhar.
Isso não apenas fornece aos funcionários e cidadãos da linha de frente uma nova energia, mas também explora informações detalhadas sobre o que está e o que não está funcionando. As equipes criam seus próprios objetivos, desenvolvem e testam ideias, geralmente baseadas em temas estratégicos que os líderes do sistema, incluindo conselheiros, executivos do conselho e líderes de diretoria, os convidaram a explorar.
As equipes da linha de frente acompanham essas alterações com dados e os líderes seniores removem obstáculos e ajudam a dimensionar abordagens bem-sucedidas. O momento para a inovação da linha de frente e novas maneiras de trabalhar duram muito além dos 100 dias iniciais.
Testbeds são ferramentas estruturadas para testar tecnologias ou serviços no mundo real, para entender melhor seu funcionamento. São amplamente usadas nos negócios e começaram a ser mais presentes no setor público, principalmente para testar usos de tecnologias, como drones ou inteligência artificial.
Eles permitem que um produto seja testado com uma amostra de população em um cenário do mundo real. Experimentar uma ideia com consumidores reais e em condições físicas reais geralmente gera insights que não são óbvios quando um produto está ainda na fase de desenvolvimento.
Indústrias, como varejo, usam rotineiramente bancos de testes, mas esses são relativamente raros no governo. As políticas geralmente são projetadas e implementadas sem testes adequados, e isso tem ocorrido com frequência em relação às tecnologias digitais. Por exemplo, na área da saúde, enquanto novos medicamentos são submetidos a testes rigorosos em ensaios clínicos, novos aplicativos digitais geralmente são comissionados sem testes sistemáticos — e, assim, como resultado, podemos ter bilhões desperdiçados. Testbeds podem ajudar a inovar no governo em vários aspectos:
Modelos diferentes de bancos de testes podem ser úteis para diferentes estágios do desenvolvimento da tecnologia. Para produtos em estágio inicial, o teste em um ambiente de menor escala e risco pode ser o mais apropriado. Para produtos de estágio avançado, gerar melhor evidência de impacto por meio de testes em um ambiente real e com uma medição mais formal dos resultados pode ser muito útil.
Os laboratórios de inovação são equipes ou unidades do governo encarregadas de fazer a inovação acontecer. Essas equipes multidisciplinares recebem recursos dedicados para direcionar a solução de problemas específicos em um determinado período de tempo. Eles também costumam ter um papel mais amplo de promover métodos e culturas de inovação.
>>> Para saber mais sobre o Hub Inova Juntos, confira o artigo Inova Juntos: Instituto Tellus desenvolve projeto de hub de inovação em políticas públicas.
Todos os governos podem se esforçar para encontrar recursos e tempo para investir no futuro, quando são responsáveis pela prestação dos serviços nos quais as pessoas confiam atualmente. Os laboratórios de inovação – também chamados de equipes, fundos ou unidades de inovação – ajudaram a mudar a maneira como os governos de todo o mundo enfrentam desafios usando métodos experimentais e com equipes multidisciplinares para lidar com questões sociais e públicas.
Os laboratórios de inovação podem ser distinguidos em vários eixos principais:
Os prêmios de desafio oferecem uma recompensa para quem puder enfrentar um determinado obstáculo. Por meio de competição pública, eles visam explorar e envolver a comunidade de inovadores mais ampla possível para desenvolver melhores soluções para um problema específico.
Os governos costumam adquirir produtos e serviços de todos os tipos. Eles também financiam P&D de várias maneiras – canalizando verbas para universidades, grandes e pequenas empresas e laboratórios de pesquisa.
Contudo, também podem optar por comprar um resultado, oferecendo um prêmio de desafio a qualquer um que possa mostrar que pode resolver um problema. Esse método ajuda a atrair inovadores e o dinheiro é gasto apenas se houver uma solução genuína. Normalmente, existem critérios muito claros para o que conta como sucesso.
Os prêmios de desafio são particularmente adequados para ajudar os governos a inovar e encontrar soluções para problemas públicos que compartilham algumas características-chave:
Os fundos de subsídios estão bem estabelecidos como uma forma do governo financiar a inovação. Mas existem muitas outras maneiras efetivas de se financiar inovações. As opções incluem empréstimos, investimentos, desafios, compras ou parcerias. A maioria das gestões usa apenas algumas das ferramentas de financiamento disponíveis.
Existem milhares de fundos de inovação em operação nos governos ao redor do mundo. Alguns focam em um tipo específico de organização, como escolas; alguns visam melhorar a inovação em sistemas, como o serviço de saúde; outros pretendem promover uma ideia, como voluntariado ou uso de tecnologia. Alguns são internos, apoiando ideias dentro do setor público, enquanto outros se voltam para o exterior.
Entre as muitas maneiras de usar dinheiro para inovar no governo, estão as doações, investimentos, desafios, aquisições ou parcerias. No entanto, a maioria dos departamentos e agências usa apenas uma fração desses métodos e geralmente se apega às ferramentas mais tradicionais.
>>> Quer conhecer outras ferramentas para inovar no governo? Leia também: 20 ferramentas para aplicar inovação no governo – Parte 2
Quer saber mais sobre inovação no setor público? Confira o Tellus Podcast #7 com Fábio Deboni:
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