Laboratórios de inovação e governo: o cenário dos i-labs no setor público

Os laboratórios de inovação e o setor público

Os laboratórios de inovação, também conhecidos como “i-labs”, estão se tornando cada vez mais populares e, nos últimos anos, presentes também no setor público.  Foi o que demonstrou o levantamento Descobrindo Laboratórios de Inovação no Setor Público, publicado no Repositório do Conhecimento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

Na última década, estamos vendo surgir uma série de iniciativas desse tipo em diferentes países, mas ainda temos um longo caminho a percorrer. Além disso, de acordo com o estudo, esses i-labs vêm, na verdade, sendo descritos como versões de diversas organizações existentes, como think tanks, laboratórios digitais de pesquisa e desenvolvimento, empreendimentos sociais e até organizações beneficentes.

No atual contexto de revolução 4.0, como já tratamos anteriormente no texto A 4ª Revolução Industrial e os desafios do setor público, os governos encontram-se “sitiados” pela adoção e difusão das tecnologias de informação e comunicação (TICs)— e as possibilidades criadas por elas. Isso inclui desde mecanismos de retroalimentação participativos até a utilização de web analytics e megadados, por exemplo. 

Ademais, podemos dizer, ainda, que o surgimento dos laboratórios de inovação no setor público está relacionado também a debates teóricos mais amplos sobre inovações organizacionais e tecnológicas. Neste artigo, traremos algumas constatações da pesquisa publicada em 2017 pelo IPEA sobre o atual cenário dos i-labs.

Inovação é vista como necessária no setor público

O estudo de Piret Tõnurist, Rainer Kattel e Veiko Lember explica que, embora as organizações do setor público estejam usando novas possibilidades tecnológicas, as suas habilidades de inovação estão essencialmente concentradas em processos administrativos internos. 

Isso significa que a diversidade de projetos provenientes de laboratórios de inovação no governo ainda é baixa e se concentra em mudanças incrementais. Os estudiosos afirmam, ainda, que “no nível municipal, a cidade inteligente e outras abordagens inovadoras e novas soluções de serviços têm sido lideradas principalmente pela indústria”, ou seja, pelo setor privado. 

Ao mesmo tempo, porém,  “a inovação do setor público é vista como necessária, diante dos problemas complexos da sociedade e da reforma do tradicional Estado de bem-estar”. 

Para saber mais sobre inovação no setor público, confira o debate “Desafios da Gestão Pública Municipal no Brasil”, realizado pela EACH-USP e UM BRASIL, com a participação de Germano Guimarães, co-fundador e diretor do Instituto Tellus:

Quais são os alvos dos laboratórios de inovação no Brasil

No geral, os pesquisadores constataram que os laboratórios de inovação estão surgindo para possibilitar o desenvolvimento de abordagens interdisciplinares e orientadas ao cidadão. No entanto, a maior parte do seu trabalho está, hoje, concentrada nos ministérios e em algumas outras entidades do governo.

De acordo com o estudo, o grupo-alvo dos laboratórios de inovação no Brasil são departamentos ministeriais, seguidos, respectivamente, de unidades em nível administrativo local ou regional e agências governamentais — que ocupam juntas o segundo lugar. Em terceiro, estariam as secretarias estaduais. 

O estudo afirma que mais de 60% dos gestores de i-labs “concordaram com a necessidade de o laboratório ter uma coordenação com outras entidades governamentais em nível nacional; e 70%, com a coordenação com o governo local/regional”. Isso demonstra a visão sobre a necessidade e o potencial do trabalho conjunto nesse sentido.

Como são os investimentos em laboratórios de inovação

Já no âmbito dos investimentos, o estudo afirma que os laboratórios de inovação costumam ter orçamentos relativamente baixos e, por isso, dependem de recursos externos (fundos, recursos humanos etc).

Além disso, “os i-labs tendem a ser estruturas pequenas, especializadas em experimentos rápidos, que geralmente não têm a capacidade e a autoridade de influenciar de forma significativa a melhoria de novas soluções e processos”. 

Contudo, de acordo com a pesquisa, isso não é um problema, pois, ainda assim, essas organizações têm como habilidade a capacidade de criar serviços orientados para o usuário e redesenhar projetos. Além disso, “o tamanho pequeno é até mesmo preferido pelos i-labs, já que isso lhes permite manter agilidade e autonomia, pois, com orçamentos maiores, o controle hierárquico tende a aumentar”.

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Quer saber mais sobre inovação no setor público? Confira o Tellus Podcast #7 com Fábio Deboni: